terça-feira, 9 de junho de 2009

Déjà vu

Laura acordara atrasada, fazendo as coisas correndo, abria o guarda-roupa tabaco que tinha presença marcante em seu quarto marfim. Dentre as infinitas peças que formavam um arco-íris dentro daquele móvel, ela pegava a primeira blusa; era marrom e dava uma sensação de que ela estava com alguns quilos a menos.

Descia as escadas depressa, quase escorregou no último degrau, segurou-se no corrimão. Passava pela cozinha onde pegou uma maçã, colocou na bolsa.

Saiu de casa e olhou o relógio, ele havia parado marcando 7:36h. Passou a mão no rosto para tirar os cabelos quase vermelhos que balançavam com a força do vento. Andou uns 100 metros até chegar ao ponto onde seu ônibus passava. Ela não teve de esperar muito naquele dia nublado, o ônibus não demorou.

Como era de costume, Laura sentou ao lado direito, na janela, na metade do ônibus. Abriu o vidro até o fim, pois ela gostava de sentir o vento gelado bater no rosto, tinha a sensação de liberdade quando fazia isto. Ligou o seu MP4 em um noticiário, pois era a única forma de se manter informada sobre o que acontecia na cidade.

Ao longo da viagem Laura notara que o ônibus seguia por um caminho diferente. Havia 12 pessoas dentro do coletivo que seguiu por uma avenida que dava num túnel. Laura não entendeu o porque do desvio, já que nesse caminho o trajeto demoraria, pelo menos, 20 minutos a mais.

-Só me faltava essa: acordei atrasada, relógio parado e agora o motorista resolve mudar o trajeto.

No noticiário ela escutava que a Avenida Álvaro Motta estava interditada devido a um assassinato junto ao ônibus 394, linha que Laura pegava todos os dias. Como ela sabia que demoraria chegar ao trabalho, permitiu-se um cochilo de última hora.

***

-Ai não acredito! Despertador de merda! – exclamava Laura levantando da cama, atrasada, olhava o relógio em forma de coração (verde-bebê) no seu quarto, estava apenas 15 minutos atrasada.

Eram 06:31h, Laura tomou banho e, enrolada na toalha, abriu o guarda-roupa e pegou uma blusa simples, mas que protegia do frio que a meteorologia previa. A blusinha era marrom, e tinha uma textura agradável que Laura adorava.

No ponto de ônibus Laura era apenas mais uma entre a quantidade de pessoas.

-Porra, eu odeio pegar esse ônibus de 15 para as 7, ele sempre vem cheio. E o pior, cheio de crianças indo para a escola. Que merda! – pensou consigo.

Como previa a jovem de 29 anos, o ônibus veio cheio. Ela entrou, passou o vale-transporte eletrônico e passou na roleta.

O ônibus só esvaziou na Avenida Mello Gouveia, transversal com a Avenida Álvaro Motta por onde o ônibus deveria seguir seu caminho. Laura sentou-se, e como de costume ligou o rádio no noticiário. Estava dando um programa humorístico, onde os principais acontecimentos da semana eram satirizados.

O ônibus entrou na Álvaro Motta. Embarcou um indivíduo que pagou a passagem, seguiu até o meio do ônibus e anunciou um assalto. As poucas pessoas que estavam no coletivo ficaram apreensivas, nervosas. Laura ficou pálida, suava frio. Ele aproximou-se dela e soltou uma piadinha, em tom de ironia: -Que tal uma saidinha comigo, gatinha?

Laura permanecia calada. O assaltante passava a arma no rosto dela, falando safadezas. Ela ficava constrangida. Ele pegou alguns pertences dos passageiros. Tinha 12 pessoas no ônibus, mas ele havia ameaçado atirar caso alguém reagisse.

A beleza de Laura atraíra realmente a atenção do assaltante. As “brincadeiras” ficaram mais pesadas. Ela o xingou e cuspiu na cara do indivíduo. O marginal segurava o braço dela com força, obrigando-a a sair do ônibus.

As pessoas que presenciaram o fato imprimiram espanto em suas faces.

O assaltante que estava de costas para um relógio-termômetro, sem noção das atitudes, empurrou Laura, jogando-a no chão; ela caiu no chão vendo o relógio da rua marcar 7:36h. Bateu com a cabeça na calçada findando a vida com esse último movimento.

3 comentários:

Luciano Freitas disse...

Bela estréia, Alex! Gostei da narrativa e do caso também! Escrever sobre meninas é sensacional, sempre, não? Bem vindo ao mundo dos contistas!

Notícias de Niterói disse...

Bem trágico, mas um belo conto!! Parabéns meu amigo, que este seja o primeiro de muitos contos para que nós, leitores, tenhamos o prazer de degustar.

Carol disse...

Alex, cd dia + vc está escrevendo melhor... esse conto eh meio trágico + eh interessante...sou fã nº 1 das suas histórias e desejo td de bom p/ vc..
bjus